A Cidade dos Homens

Leonardo António
Filme "ESPAÇOS"

Exploram-se os ESPAÇOS e os ambientes da cidade de Lisboa onde reina a
curiosidade e o desprezo. A população vive o poço urbano através da adaptação aos
elementos que a rodeiam sem nunca perder o rumo, difuso e inalterável. A pessoa
urbana ignora, sem saber, os limites do seu olhar e estabelece uma linha de rumo
que contorna o receio para procurar e encontrar a sua liberdade.

Notas biográficas
Leonardo António, Realizador de Cinema e licenciado em Arquitectura, é o autor do
filme "O Frágil Som do Meu Motor" e de inúmeros outros projectos audiovisuais.
Produz e Realiza desde 2005 e ganhou, em 2008, o Prémio Internacional do Júri do
Festival de Cinema Ekotop, na Eslováquia, com a curta-metragem "Aqua", o primeiro
filme a aventurar-se em Ficção Científica e Efeitos Visuais 3D em Portugal.



Manuel Graça Dias
O MEDO DA CIDADE: DE AUTOMÓVEL ENTRE O SHOPPING E O CONDOMÍNIO


Argumento
Não tenho conhecimento de nenhum estudo que nos elucide sobre se a criminalidade, a violência gratuita, os abusos sexuais, têm vindo a aumentar em Portugal, ao longo dos anos, ou se é a visibilidade (por vezes necessária, outras, apenas, sensacionalista), que lhes é dada por televisões e jornais que vai sendo amplificadamente maior.
O que é certo, é sentirmos hoje muitos cidadãos, sobretudo da classe média urbana, presos a temores pequeno-burgueses envolvendo, quer um arreigado sentido de propriedade quer fantasiosas fobias no que toca aos usos possíveis do corpo.
A cidade contemporânea foi sendo refeita à custa de medos vários. Onde ontem Haussmann ordenara as grandes avenidas, para melhor controlo do revoltado proletariado da Paris do final de XIX, são hoje as "vias rápidas", urbanas e suburbanas, a momentânea pacificação das famílias da classe média, enfiadas dentro de cápsulas com cintos, airbags, portas automaticamente travadas e obrigatórios assentos "próprios" para as diversas idades dos filhos que viajam atrás, entretidos com jogos vídeo nos tablets presos às costas das cadeiras. Dentro daquelas bolhas não entra o "mal" da cidade, sobretudo se se circular à velocidade europeia, ouvindo uma voz GPS indicando placas europeias azuis que bifurcam as opções por entre as retalhadas periferias.
E se quiserem jantar? O shopping tem um grande e vigiado food court e lá serão livres de escolher os pratos preferidos dos filhos, com mais ou menos calorias. Depois, um filme de acção, enquanto mastigam pipocas em segurança na sala quase vazia. Na hora do regresso, encontram o automóvel no mesmo piso, na mesma área, na mesma fila, no mesmo lugar onde o deixaram. Voltar a casa é ainda mais livre de perigos; os miúdos dormem nas suas múltiplas cadeirinhas de segurança – "não deixe de utilizar a cadeira de apoio ou o banco elevatório antes de a criança ter 150 cm de altura, 12 anos ou 36 kg de peso!"
Entram nos seus condomínios; cumprimentam o Sr. Jaime ou o Sr. Nessunga, os porteiros que lhes acautelam a entrada; lá em baixo fica o lugar do automóvel, depois o elevador; daí a nada, estarão na completa tranquilidade do apartamento fechado por porta blindada e uma combinação infalível de números e letras como código de acesso.
Antigamente, dizia-se que os ameríndios (ou seriam os africanos?) não gostavam que os colonos os fotografassem, temendo que lhes roubassem a "alma".
É a única coisa que esta nova classe europeizada não teme; ou porque já lha roubaram ou porque não a chega a sentir necessária.

Notas Biográficas
Manuel Graça Dias (Lisboa, 1953) é Arquitecto (ESBAL,1977), Prof. Associado da FAUP, onde concluiu Doutoramento em 2009 e Prof. Catedrático Convidado do DA/UAL. Vive e trabalha em Lisboa onde mantém atelier com Egas José Vieira, desde 1990. Foi Director do Jornal Arquitectos (2000-04 e 2009-12) e Presidente da Secção Portuguesa da AICA (2008-12), sendo autor de inúmeros artigos e vários livros de crítica e divulgação de temas de Arquitectura. Em 1999 ganhou, com EJV, o Prémio AICA/MC (Arquitectura).


José Machado Pais
Patologias sociais da vida urbana


Argumento
A vida urbana tem vindo a ser dominada por urdiduras relacionais fragmentadas e precárias, onde impera o medo do outro e a indiferença social. O que se debate são as profundezas ocultas de estruturas urbanas que, à superfície da vida quotidiana, se manifestam numa neurose cultural.

Nota biográfica
José Machado Pais (Lisboa) é licenciado em Economia e doutorado em Sociologia, Investigador Coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Coordenou o Observatório Permanente da Juventude Portuguesa e Observatório das Atividades Culturais. Foi consultor da União Europeia e do Conselho da Europa (Vice-Presidente do Youth Directorate of the Council of Europe). Foi Diretor da revista Análise Social e da Imprensa de Ciências Sociais. Foi também Vice-Presidente da Associação Internacional de Ciências Sociais e Humanas de Língua Portuguesa (2011-2015). Em 2003, recebeu o Prémio Gulbenkian de Ciências Sociais e, em 2012, o Prémio ERICS (Prémio Estímulo e Reconhecimento da Internacionalização em Ciências Sociais). Presentemente é Subdiretor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Tem dirigido projetos internacionais em vários domínios das Ciências Sociais e publicou vários livros, de entre os quais se destacam: A Prostituição e a Lisboa Boémia (Lisboa, 1985, 2008); Artes de Amar da Burguesia (Lisboa, 1986, 2006); Culturas Juvenis (Lisboa, 1993, 1995, 2003); Sousa Martins e suas Memórias Sociais. Sociologia de uma Crença Popular (Lisboa, 1994); Consciência Histórica e Identidade. Os Jovens Portugueses num Contexto Europeu (Lisboa, 1999); Sociologia da Vida Quotidiana (Lisboa, 2002, 2004, 2007, 2010, 2012; 2015); Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro (Porto, 2001, 2003, 2005); Nos Rastos da Solidão (Porto, 2006, 2007); Lufa-lufa Quotidiana. Ensaios sobre Cidade, Cultura e Vida Urbana (Lisboa, 2010); Sexualidade e Afetos Juvenis (Lisboa, 2012); Enredos sexuais, Tradição e Mudança. As Mães, os Zecas e as Sedutoras de Além-mar (Lisboa, 2016, no prelo).


Vasco Tavares dos Santos
Arquitectura e Melancolia


Argumento

'Luto e Melancolia' , estudo fundamental sobre o Ego, é um texto privilegiado de Freud, que mostra como poucos a força e a beleza literárias da genialidade freudiana bem como o seu mérito ético.
A presente comunicação pretende mostrar como nenhuma disposição da alma ocupou o Ocidente tanto tempo e tão continuamente como a melancolia.

Ela permanece, operatória, no seio dos problemas com os quais o homem é actualmente confrontado e abarca múltiplos domínios: a psicanálise, a psiquiatria, a filosofia , a literatura , a arte. E a arquitectura. Ecoam,aqui, as obras de Aldo Rossi e Diogo Seixas Lopes, referências maiores que recorrem a um sentido primordial de dúvida sobre  ' o nosso  sentimento habitual de imperfeição’. A atitude melancólica não pode ser entendida como um distanciamento da consciência face ao desencantamento do mundo. Esta ' doença sagrada', desde alguns quadros antigos até numerosas obras contemporâneas, mostra como este humor constitui e corporiza o génio europeu.

Notas Biográficas
Vasco Tavares dos Santos nasceu em 1959. Psicoterapeuta e Psicanalista exerce actividade clínica e docente. É Director Adjunto da Revista Portuguesa de Psicanálise e formador no Instituto de Psicanálise de Lisboa. É membro associado da Sociedade Portuguesa de Psicanálise e da International Psychoanalytical Association. Tem colaboração diversificada nos domínios da reflexão literária e da Psicanálise aplicada. Desenvolve também, desde 1979 uma singular actividade de editor, tendo fundado a editora Fenda e dirigido a revista com o mesmo nome.