O Medo à Liberdade - sujeição, conformismo, emancipação

Rui Aragão Oliveira
LIBERDADES, LIBERTINAGEM E ALGUNS MEDOS

Argumento

Reflexão sobre aspetos de natureza ética, associados ao poder e à liberdade, à libertinagem e aos receios que surgem na atividade clínica e na exigente formação do Psicanalista no sec. XXI. A visão humanista da Psicanálise sempre valorizou a conquista individual de autonomia, da liberdade interna para optar e não pode nunca esquecer também a responsabilidade consequente da conquista dessa liberdade. A perversidade, a corrupção social e as situações privadas de Poder são também abordadas, associadas à vivência infantil do gozo ilimitado

Notas Biográficas
Rui Aragão Oliveira é Presidente da Sociedade Portuguesa de Psicanálise. Membro da Associação Internacional de Psicanálise, Psicanalista titular e com funções didáticas na Sociedade Portuguesa de Psicanálise, exerceu a atividade de docência universitária no ensino Público (Universidade de Évora) e Privado (Instituto Psicologia Aplicada). Dirigiu a Revista Portuguesa de Psicanálise e é membro do Editorial Board Psychoanalysis Today e do Comité de assessores do Livro Anual de Psicanálise. Autor de um vasto número de artigos, publicados em Revistas científicas da especialidade, destacam-se: O lugar do Pai na clínica psicanalítica: ontem e hoje (Revista Portuguesa de Psicanálise, 2015); O estudo de caso como metodologia de investigação psicanalítica (Revista de Psicanálise da SPPA, 2015); A relação terapêutica na psicoterapia psicanalítica: a experiência vivida por pacientes (Revista Brasileira de Psicoterapia, 2014); Masculinity and the analytic relationship - transforming masculinity in the course of the analysis ( In Ester Palerm Mari & Frances Thomson-Salo, Masculinity and femininity today. London, Karnac, 2013); O analista e a construção da interpretação( Revista Portuguesa de Psicanálise, 2013); Sobre a investigação do processo terapêutico em Psicanálise e em Psicoterapia Psicanalítica (Revista Portuguesa de Psicanálise, 2012); A entrevista clínica psicanalítica ( Revista Portuguesa de Psicanálise, 2010); O funcionamento perverso da mente (Revista Brasileira de Psicanálise, 2008); A dor e sua erotização: contributos para a compreensão do fenómeno da dor (Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação.


Viriato Soromenho Marques

A PERPÉTUA OSCILAÇÃO: ENTRE O DIREITO À LIBERDADE E AS POLÍTICAS DO MEDO

Argumento
Como “abertura” para esta apresentação, recorda-se este texto publicado no “Diário de Notícias”, em 7 de Novembro de 2010


ELOGIO DO MEDO
Numa entrevista recente, concedida à Antena 1, o filósofo José Gil alertava para o que considerava ser o “regresso do medo”, dando como exemplo o alastramento das atitudes de egoísmo nos locais de trabalho, que só se explicaria pela fragmentação de uma sociedade crescentemente atomizada pelo medo. Concordo com a descrição dos sintomas, mas discordo do diagnóstico de José Gil. Prefiro seguir o grande Thomas Hobbes, que na sua clássica obra, Do Cidadão (1642) chamava a atenção para a dimensão política do medo: "[...] a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não consistiu na boa vontade mútua de todos os homens, mas no medo recíproco que tinham uns pelos outros." Só o medo nos permite enfrentar a fragilidade da condição humana, mortais partilhando efemeramente o mundo com os nossos semelhantes. O medo combate a desmesura, estimula a inteligência, promove o raciocínio estratégico, incentiva a disciplina, ajuda-nos a conhecer os nossos limites, e a respeitar os limites dos outros. Se José Gil aceitar trocar “medo” por “pânico”, a sinistra força que paralisa a vontade, então estaremos integralmente de acordo. Depois de quase duas décadas de euforia -- a forma extrema da ausência da dimensão política do medo -- a sociedade portuguesa entra agora numa incerta e perigosa onda de pânico, onde cada um procura o seu nicho de salvação. Nesta paisagem sombria só poderemos saudar o regresso do medo, como uma paixão que nos ajude à navegação nas águas agitadas do presente. Com medo, teremos políticas públicas mais duradouras e escolhas pessoais mais sensatas. Aliás, só quem experimenta o medo consegue desenvolver a virtude fundamental que tem faltado à política portuguesa: a coragem. Só a coragem, aliada à lucidez, consegue mudar o mundo para melhor.

Notas Biográficas
Viriato Soromenho-Marques é Doutorado em Filosofia e Professor Catedrático de Filosofia da Universidade de Lisboa, regendo as cadeiras de Filosofia Social e Política e de História das Ideias na Europa Contemporânea. Membro da Academia das Ciências de Lisboa e de várias Sociedades e organizações científicas em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente da Sociedade Portuguesa de Filosofia, da International Society for Ecological Economics, da American Political Science Association, da Associação Portuguesa de Ciência Política. Desenvolve desde 1978 uma intensa actividade no movimento associativo ligado à defesa do ambiente, tendo sido de 1992 a 1995 presidente da QUERCUS. Publicou numerosos artigos, estudos e livros, abordando temas filosóficos, político-estratégicos, e ambientais, nomeadamente: Europa: o risco do futuro (Lisboa, Dom Quixote, 1985); Direitos humanos e revolução (Lisboa, Colibri, 1991); Europa: labirinto ou casa comum (Lisboa, Publicações Europa-América, 1993); Regressar à Terra: Consciência ecológica e política de ambiente (Lisboa, Fim de Século, 1994); Metamorfoses. Entre o Colapso e o Desenvolvimento Sustentável (Mem Martins, Publicações Europa-América, 2005), Cidadania e Construção Europeia (coordenação, Lisboa, Museu da Presidência da República/Ideias e Rumos, 2005).


Irene Flunser Pimentel

A transmissão estatal do medo e a liberdade de resistir no século XX português

Argumento
Durante quase metade do século XX, Portugal viveu sob um regime de ditadura sendo a sua longa duração considerada um fenómeno na historiografia europeia contemporânea. Os factores que para tal contribuíram já foram analisados, quer numa perspectiva histórica, quer também sociológica, filosófica e psicológica. Contribuíram certamente para a duração da ditadura e para o facto de a resistência a esta ter sido sempre minoritária e incapaz de derrubá-la, os aparelhos de repressão, da PIDE à PSP passando pela GNR, mas também as Forças Armadas, que na realidade monopolizam a violência do Estado. Curiosamente, foram até uma parte dessas Forças Armadas que, por duas vezes, derrubaram regimes no século XX português: em 1926, a I República, e em 1974, a Ditadura.
No entanto, nenhuma ditadura funciona e perdura unicamente através do medo aterrorizador e da eliminação da liberdade de resistência, pois infelizmente a sua duração também se deve em parte à forma como esse regime “compra” partes da população, acenando-lhe com “privilégios”. Qualquer regime ditatorial cria também, a par da apatia e da despolitização, diversas atitudes de cumplicidade com ela e até mesmo a adesão de parte da população. É através da análise desses diversos factores, que me proponho tentar contextualizar e explicar esse processo de instilação do medo e de abdicação “voluntária” da liberdade, bem como as suas consequências no tempo presente.
 
Notas Biográficas
Irene Flunser Pimentel é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, mestre em História Contemporânea e doutorada em História Institucional e Política Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Elaborou diversos estudos sobre o Estado Novo, o período da II Guerra Mundial, a situação das mulheres e a polícia política durante a ditadura de Salazar e Caetano. É investigadora do Instituto de História Contemporânea (FCSH da UNL). É co-autora e autora de diversos livros, entre os quais se contam: História das Organizações Femininas do Estado Novo; Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em Fuga de Hitler e do Holocausto; A História da PIDE; Vítimas de Salazar. Estado Novo e Violência Política. Recebeu o Prémio Pessoa, atribuído pelo Expresso e a Unysis em 2007 e o o Prémio Seeds of Science na categoria «Ciências Sociais e Humanas» em 2009; É Chevalière de la Légion d´Honneur francesa.



João Sousa Monteiro
COBARDIA SILENCIOSA

Argumento
Jacques Le Goff propõe, num curto ensaio sobre a Europa, que dos valores fundadores da civilização Ocidental que os Gregos nos legaram – o valor da razão, da liberdade, da ciência, da dúvida - talvez o mais importante tenha sido o valor da dúvida. As ‘basic assumptions’, de Wilfred Bion, são mecanismos internos que nos mantêm, silenciosamente, no pânico da dúvida. Esses ‘personagens’ internos, que parecem povoar-nos silenciosamente a todos, militam continuamente contra talvez o mais importante valor da cultura Ocidental. Parafraseando Hamlet (III. i. 83), a dúvida faz de nós todos cobardes. Mas a cobardia perante a dúvida deixa marcas profundas na vida de cada um de nós tal como na história dos homens.


Notas Biográficas

João Sousa Monteiro é Psicanalista em prática clínica há mais de vinte e cinco anos.
Fez cinco programas de rádio sobre psicanálise, dois dos quais com João dos Santos, e outros dois com Amaral Dias. Desses programas nasceram quatro livros.
Fez a sua primeira formação em psicanálise em Lisboa, tendo a partir daí feito toda a sua a formação clínica com Donald Meltzer, com quem trabalhou em Oxford durante treze anos. Donald Meltzer supervisionou todos os seus casos clínicos durante esse tempo. A investigação clínica e teórica sobre o trabalho então feito com Meltzer continua no presente. Desenvolve actualmente vários projectos de investição clínica e teórica na área da psicanálise em colaboração com colegas seus nos Estados Unidos, e com a Harris-Meltzer Trust, em Londres.
Obras: “The Clinical Importance of Donald Meltzer’s Theory of Aesthetic Conflict”, actualmente em processo de publicação (The Harris-Meltzer Trust / Karnac); The Tragedy of Triumph: A Thirteen-year Analysis in Supervision with Donald Meltzer” – em preparação (The Harris-Meltzer Trust/Karnac)